A tecnologia na valorização do tempo médico-paciente
A quantidade de tempo que os médicos perdem com atividades burocráticas vem sendo motivo de enorme preocupação em âmbito mundial, debate potencializado pela pandemia de Covid-19. O desafio é oferecer ferramentas para que esses profissionais passem mais tempo no [cuidado centrado dos pacientes](https://www.connectcom.com.br/cuidado-centrado-no-paciente-o-que-esperar-em-2021/), e não no preenchimento de documentos e pedidos. Uma [pesquisa da Cerner Corporation](https://www.acpjournals.org/doi/full/10.7326/M18-3684) feita no ano passado com cerca de 155 mil médicos americanos analisou mais de 100 milhões de consultas e concluiu que os profissionais gastam, em média, por consulta, mais de 16 minutos cuidando de tarefas em sistemas eletrônicos, como preenchimento de guias e solicitações administrativas. Em 2016, a [American Medical Association](https://www.ama-assn.org/) já vinha se debruçando sobre o assunto: um [estudo qualitativo](https://www.acpjournals.org/doi/full/10.7326/M16-0961) que acompanhou 57 médicos por 430 horas revelou que, para cada hora que os profissionais realizam atendimento clínico direto a pacientes, quase duas outras são gastas em sistemas eletrônicos ou trabalho de mesa. É tempo demais pesquisando no computador, procurando papéis e assinando documentos. Entre 2010 e 2017, o número de médicos que passaram a usar algum tipo de prontuário eletrônico [saltou de 51% para 86%](https://dashboard.healthit.gov/quickstats/pages/physician-ehr-adoption-trends.php), segundo dados do [Health It Dashboard](https://dashboard.healthit.gov/index.php), plataforma de dados públicos de tecnologia da saúde dos Estados Unidos. Naturalmente, os ganhos comparados aos prontuários em papel são enormes, mas, por outro lado, podem gerar outros problemas caso a usabilidade e a integração com outros serviços sejam ruins. É por isso que 44% dos médicos ouvidos em um [estudo realizado pela Universidade de Stanford](https://med.stanford.edu/content/dam/sm/ehr/documents/EHR-Poll-Presentation.pdf) veem os prontuários eletrônicos apenas como uma ferramenta de armazenamento de dados, e não como uma ferramenta de apoio clínico. Apenas 8% enxergaram alguma relação clínica com o prontuário. A usabilidade e a integração das informações são chave para soluções de valor, principalmente quando precisamos que o dado gerado pelo médico tenha a qualidade necessária para o uso nos sistemas de apoio à decisão, promovendo maior segurança para o paciente. O uso da inteligência artificial e das possibilidades geradas pela tecnologia precisam dos dados como insumo para a criação de modelos, hipóteses e análises. Como desejamos evoluir se as informações obtidas dos prontuários forem desestruturadas e incompletas em razão da baixa aderência dos usuários médicos e da dificuldade em incluí-las? A complexidade das soluções tende a ser inversamente proporcional à facilidade de uso. Precisamos unir as duas pontas e fazer com que médicos utilizem todo o potencial dos sistemas como um verdadeiro suporte para sua prática médica. O que não se pode negar é que o apoio à decisão clínica e os alertas gerados na hora certa ajudam os médicos a fazer o que é mais importante: salvar vidas.